Características do Parnasianismo

Características do Parnasianismo: Entenda Esse Movimento Literário em Detalhes

O Parnasianismo foi um movimento literário surgido no final do século XIX como uma reação ao Romantismo. Sua proposta central era valorizar a forma da poesia, a perfeição técnica e o rigor estético, distanciando-se das emoções subjetivas e dos exageros sentimentais românticos. Para quem está começando a entender o que foi esse movimento, o Parnasianismo pode parecer complicado à primeira vista, mas neste texto você verá como suas características são claras e bem definidas.

Contexto Histórico: Por Que o Parnasianismo Surgiu?

O Parnasianismo se desenvolveu na França, tendo como marco a publicação da antologia Le Parnasse Contemporain (1866), que reuniu poemas de autores como Théophile Gautier, Leconte de Lisle e Charles Baudelaire. Em oposição ao Romantismo, que exaltava o sentimento e o “eu lírico”, os parnasianos defendiam a impessoalidade, a busca pelo ideal de beleza e o retorno a formas clássicas de composição, como o soneto.

No Brasil, o movimento ganhou força no final do século XIX, influenciado pela obra de autores franceses e como resposta ao Romantismo local. O Parnasianismo brasileiro teve como principais representantes Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira, que são conhecidos como os três grandes poetas parnasianos. Esses autores consolidaram o movimento em nosso país e ajudaram a estabelecer seus princípios.

Características do Parnasianismo: Forma Sobre o Conteúdo

No Parnasianismo, a forma era mais importante que o conteúdo. Isso significa que os poetas parnasianos dedicavam especial atenção à estrutura dos versos, à métrica, à rima e à escolha das palavras. Essa obsessão pela forma pode ser resumida na máxima “arte pela arte”, um dos lemas desse movimento.

1. Valorização da Forma e da Perfeição Técnica

A busca pela perfeição técnica é um dos pilares do Parnasianismo. Os poetas dedicavam-se a criar versos impecáveis, com métrica precisa e rimas ricas. A forma rigorosa do soneto, por exemplo, com 14 versos decassílabos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos, foi amplamente utilizada. Para os parnasianos, a poesia devia ser quase como uma escultura em mármore: polida, fria e perfeita.

Exemplo prático dessa característica pode ser encontrado no poema “Profissão de Fé”, de Olavo Bilac. Nesse poema, Bilac exalta o rigor estético ao afirmar:

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

Percebe-se o cuidado com a métrica e a rima, com o poema seguindo um ritmo controlado e exato.

2. Impessoalidade e Objetividade

Diferente do Romantismo, em que o “eu lírico” expressava emoções e experiências pessoais, o Parnasianismo valorizava a impessoalidade. A ideia era evitar a subjetividade, focando em temas neutros e abordagens objetivas. Os poetas se preocupavam mais em descrever objetos, cenários e imagens do que em expressar sentimentos pessoais.

Um exemplo dessa objetividade pode ser visto em “Vaso Chinês”, de Alberto de Oliveira:

“Aqui sobre o piano, entre os castiçais,
Brilha, e o esmalte porcelana fina,
Como um reflexo d’alma feminina,
Este copo de lágrimas de opalas.”

Aqui, o poema descreve com precisão um objeto, sem mergulhar em emoções ou subjetividades.

3. Descritivismo e Culto à Beleza Clássica

Os poetas parnasianos se inspiravam na cultura greco-romana, buscando em suas obras a harmonia, a simetria e a beleza idealizada. Por isso, seus poemas são frequentemente descritivos, focando em detalhes visuais que exaltam a perfeição dos objetos descritos. Essa tendência ao descritivismo também se manifesta em temas históricos e mitológicos, muito presentes nas obras parnasianas.

Olavo Bilac, em “A Musa Impassível”, ilustra essa característica:

“E ela, que é toda a Lua e o Saturno,
Rosa de fogo a flor, no mármore,
Sobre a rocha morta se abre o lírio”

A beleza de figuras clássicas e mitológicas é celebrada com rigor estético e descrição detalhada.

O Estilo Parnasianista: Culto ao Equilíbrio e à Imagem

O estilo parnasiano é marcado pela busca da palavra exata e pela tentativa de criar imagens visuais perfeitas. Para isso, os poetas não hesitavam em fazer uso de recursos como o uso de palavras raras, construções sintáticas elaboradas e até aliterações. A ideia era que a poesia deveria ser contemplada como uma obra de arte, como um objeto de beleza.

4. Racionalidade e Contenção Emocional

A racionalidade domina a poesia parnasiana. Emoções e sentimentos são contidos e, quando aparecem, são tratados de forma distanciada. A razão prevalece sobre o impulso emocional, resultando em versos que buscam equilíbrio e serenidade. Esse traço reflete o ideal de uma poesia “fria”, em que o controle emocional é evidenciado pela precisão técnica e pela clareza das imagens.

Em “Versos a Saturno”, Raimundo Correia expressa essa contenção:

“A vida é combate que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos só pode exaltar.
Nos fracos, os fortes, que inveja, que abate!
Mas que soberano prazer não exalta!

 

A Influência do Parnasianismo na Literatura Brasileira

O Parnasianismo deixou uma marca profunda na literatura brasileira, especialmente na poesia. Embora o movimento tenha sido efêmero em termos de duração, suas características e seus princípios influenciaram a forma como a poesia era concebida no país, em um período de transição entre o Romantismo e o Modernismo.

5. Resistência ao Sentimentalismo e à Idealização Romântica

Um dos pontos mais marcantes do Parnasianismo no Brasil foi o contraste que ele trouxe em relação ao Romantismo, que dominava a cena literária até então. Enquanto o Romantismo valorizava a expressão emocional intensa e o idealismo exacerbado, os parnasianos focaram na exatidão e na descrição precisa. Isso representou uma mudança significativa na forma como a literatura era entendida e consumida, colocando em primeiro plano a técnica e a estética.

Autores como Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia se destacaram ao desafiar as convenções românticas, buscando retratar a realidade com uma abordagem mais técnica e descritiva, em vez de se deixar levar por idealizações e sentimentalismos. Essa busca por neutralidade e precisão técnica fez com que a poesia se tornasse mais rígida, controlada e, por vezes, considerada até mesmo fria.

6. O Uso da Mitologia e da Cultura Clássica como Referência

No Parnasianismo, a mitologia greco-romana, bem como as figuras históricas e culturais, são elementos recorrentes. A estética clássica servia como modelo ideal, e a descrição de estátuas, monumentos e figuras mitológicas era uma forma de os poetas demonstrarem sua erudição e habilidade técnica.

Esse apego à cultura clássica também representava um retorno aos valores da Antiguidade, em que a harmonia e a proporção eram fundamentais. Um exemplo claro disso está no poema “Ode ao Sol” de Olavo Bilac, onde ele exalta o astro-rei com referências mitológicas e traços da antiguidade:

“Ó Sol! Ó rei dos céus! Deus triunfante!
Força eterna, luz, chama ardente e pura!
Dá-me um verso imortal, um verso que escultura
Vibre, ecoando no espaço incessante.”

Aqui, Bilac não apenas cria uma descrição vívida do Sol, mas também utiliza uma linguagem solene, quase reverencial, que reflete o estilo clássico.

A Crítica e as Limitações do Parnasianismo

Apesar de sua importância, o Parnasianismo não passou sem críticas. Muitos apontaram que o movimento estava mais preocupado com a forma do que com o conteúdo, resultando em uma poesia que, embora tecnicamente impecável, muitas vezes carecia de profundidade emocional ou de relevância temática. A obsessão pela perfeição técnica levou alguns poetas a criarem obras que, apesar de belas esteticamente, pareciam desconectadas das questões sociais e existenciais da época.

7. Formalismo Excessivo e a Distância do Realismo Social

O formalismo excessivo foi um dos pontos mais criticados. Em um período em que movimentos como o Realismo e o Naturalismo estavam trazendo à tona questões sociais e políticas urgentes, o Parnasianismo parecia alienado desses debates. Para os críticos, o foco exclusivo na técnica e na forma afastava a poesia da realidade vivida pelas pessoas comuns. Enquanto autores realistas se preocupavam em retratar a sociedade com suas desigualdades e contradições, os parnasianos mantinham-se distantes dessas discussões, preferindo retratar estátuas, objetos e cenas idealizadas.

Essa desconexão é uma das razões pelas quais o Parnasianismo perdeu força com a chegada do Modernismo, que rejeitou os excessos formais e trouxe de volta a liberdade de expressão, o experimentalismo e a crítica social à literatura brasileira.

8. A Transição do Parnasianismo para o Simbolismo e o Modernismo

À medida que o século XX avançava, o Parnasianismo foi gradualmente perdendo espaço para outros movimentos literários. Dessa maneira, o Simbolismo, que surgiu quase paralelamente, trouxe uma nova perspectiva, focando no subjetivismo, na musicalidade e no misticismo. Além disso, o Modernismo, por sua vez, rompeu com todas as convenções parnasianas, promovendo uma revolução na linguagem e na forma de fazer literatura.

Ademais, os poetas modernistas criticavam o formalismo e a rigidez dos parnasianos, propondo uma nova estética baseada na liberdade criativa e no engajamento com as realidades sociais e culturais do Brasil. Portanto, essa transição marca o fim da era parnasiana e o início de uma nova fase na literatura brasileira, em que a arte se torna mais dinâmica e acessível, sem as amarras do academicismo.

O Legado do Parnasianismo

Embora outros movimentos literários tenham superado o Parnasianismo, ele ainda deixou um legado importante, especialmente na técnica poética e no rigor formal. Quem aprecia a poesia clássica e bem estruturada encontra nas obras parnasianas exemplos de como a forma pode alcançar um nível elevado de perfeição.

Além disso, poetas posteriores, mesmo inseridos em outros contextos e movimentos, mantiveram a valorização da estética e da precisão formal, refletindo a influência do Parnasianismo. Portanto, compreender o Parnasianismo vai além de entender um momento específico da literatura; é também reconhecer sua contribuição para o desenvolvimento de outras correntes literárias.

Se você está começando a explorar a literatura brasileira, vale a pena ler autores como Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira. Suas obras não apenas ilustram as características do Parnasianismo, mas também oferecem um vislumbre do cuidado com a linguagem e com a beleza formal que tanto marcaram esse movimento.


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